Fato um: O governo brasileiro teve uma atitude louvável nestes tempos de crise em nome da evolução da economia. Redução de IPI dos produtos de linha branca (geladeira, fogão e companhia) e de automóveis. Três itens bobos vão cobrir a diferença: o cigarro, as bebidas alcoólicas e o combustível. Ou seja, vamos pagar a conta do mesmo jeito. Bacana, né? Eu não vou nem entrar nos méritos de quão absurdo é você reduzir IPI de carro e aumentar o do combustível, porque tenho preguiça de paradoxos.
Fato dois: Lei anti-fumo em São Paulo proibe o fumo em qualquer lugar fechado a partir de agosto de 2009. Isso inclui bares, boates, hotéis, além de proibir o cigarro como recurso cênico – diretores de teatro e cinema terão de pedir autorização governamental para que alguém fume em local fechado, seja no palco ou numa cena de filme. Sério, até na ficção é proibido fumar. A lei responsabiliza os estabelecimentos, não os fumantes; as punições são multas e interdição do local por até 30 dias. Esta nobre inovação legal inclui a criação de um programa para aqueles que quiserem parar de fumar.
Parâmetros: bebidas alcoólicas e cigarros são drogas, não vou discutir com o dicionário. Só que socialmente falando elas são consideradas de formas distintas. É raro quem não beba nada alcoólico nunca e o hábito de beber todo final de semana não é considerado dependência, mesmo que se beba até cair. Em contrapartida, todo fumante é considerado um dependente. Se você acende um cigarro, é chamado fumante, se toma uma cerveja não é chamado alcoólatra (até porque alcoolente fica feio que dói).
O vício fica mais caro e cada vez mais limitado, os programas antitabagistas mais poderosos. Se é para diminuir o número de fumantes, porque não proibir de uma vez, tornar ilícito? Parece que é mais fácil coibir os fumantes do que combater essa indústria milionária. Antes que venha alguém deixar uma garrafa em nome da saúde, é claro que eu sei que o cigarro faz mal, claro que eu sei que meu cabelo não é o mais cheiroso do mundo, sei também que os não-fumantes se sentem incomodados, sei de tudo isso. Eu e todos os outros fumantes sabemos. A pergunta certa é vocês acham que os fumantes vão deixar de fumar ou deixar de ir aos lugares com proibições?
Eu sou fumante e não tenho a menor intenção de parar, não é uma questão de fazer apologia ao cigarro, trata-se apenas de ver que não faz o menor sentido esse tipo de proibição. Eu abro mão de frequentar shoppings onde não há sequer uma cafeteria onde eu possa fumar – aqui em Curitiba isso quer dizer que só tenho duas opções, mas tudo bem, essa é a minha escolha e me basta. Em breve, estaremos fumando escondido no quintal de casa, como quando éramos adolescentes.
p.s.: acho que qualquer um que comprar geladeira e carro esse ano deveria começar a bancar o meu cigarro!
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