Estava lendo uma entrevista do Steven Heller na abcDesign quando uma frase me fisgou. Respondendo uma pergunta sobre as escolas americanas de design, ele disse que a maioria ainda está engajada em produzir uma abelha operária que funcione. Fiquei com os dedos coçando pra escrever na hora. Consigo ver várias formas de entender essa frase, bora passear por dentro da metáfora do homem.
A abelha operária domina seu trabalho: conhece as ferramentas, a metodologia, os resultados esperados e cumpre tudo rigorosamente. Se aumentar a demanda, a abelhinha faz um monte de hora extra (se quiser testas, aproveita o calor e deixa um picolé de uva em cima da mesa pra você ver) e nem reclama por salário maior ou banco de horas. Uma abelha operária é, do ponto de vista corporativo, a funcionária perfeita. Por outro lado, uma abelha operária não inventa nada realmente novo, não otimiza seu trabalho, não pensa em soluções maiores que facilitariam o trabalho de todos, simplesmente não pensa. E assim se caracteriza o comportamento medíocre do profissional, que jamais será grande nem sequer fará a empresa maior, mas atende as necessidades corporativas.
A questão é que hoje em dia quase ninguém tem espírito empreendedor. Não se faz mais faculdade para abrir um negócio, se faz para conseguir um bom emprego, pagar as contas e passar os próximos vinte anos trabalhando para os outros, para aí quem sabe começar a pensar em algo seu. Eu não creio que alguma abelha operária vá reinventar a caixa do Lucky Strike, por mais que seja capaz – com todo respeito ao Raymond Loewy. E depois desse raciocínio todo, eu me pergunto se a frase do Steven Heller foi um elogio ou uma crítica. Não consegui decidir.
Em tempo: não tenho nada contra abelhas operárias, eu mesma sou uma abelha feliz. Acho que empreender um negócio próprio é coisa de quem tem perfil e vontade. Começar uma empresa na garagem é assunto extremamente pessoal, não é uma formação acadêmica que vai ensinar isso.
Deixe um comentário