Em tempos que se discute tanto machismo e feminismo, um filme contando um pedaço importante da história dos movimentos femininos vem bem a calhar.
A gente vive bem, mas a gente ainda questiona um monte de coisas nessa vida, direitos que buscamos, igualdade que não temos, sejam de salários ou de expectativas sociais. E aí você olha com que aquelas mulheres estavam lidando e fica pensando como aguentavam, de onde tiravam forças. Cara, aquilo era o inferno na terra (quem sabe um dia digam isso sobre os dias de hoje, mas enfim).
O filme olha muito de perto pra vida de uma lavadeira, Maud Watts (Carey Mulligan), que não tá exatamente procurando se envolver. De repente se vê no meio de uma manifestação e começa a se dar conta quantas sufragistas fazem parte de sua vida, de uma forma ou de outra. É uma espiral descendente e a mulher simples passa a ouvir, prestar atenção e se engajar de verdade.
Na real As Sufragistas segue uma fórmula que me incomoda muito, mas parece ser a receita de bolo pra fazer um filme de sucesso de protagonismo feminino. Salvo raras exceções, Maud vai sendo conduzida a grandes momentos por outras sufragistas, por questões de oportunidade, ou impelida pela polícia. Assim como Jogos Vorazes, Divergente e outros tantos. Isso me incomoda por tantas razões que até vale fazer um post específico. De qualquer forma, acho que é bastante óbvio qual o problema de uma história cuja protagonista tem pessoas que fazem sua vida acontecer, tipo fada madrinha.
Entre as sufragistas, Meryl Streep e Helena Bonham Carter são as maiores estrelas, mas há uma personagem secundária, Violet, por quem desenvolvi uma forma de amor. Apesar dos pesares sobre a condução da história, Violet é a pedrinha no sapato que faz com que a protagonista se sinta incomodada com a própria realidade. Ela é simplesmente fantástica.
Há citações e mais citações reais no filme. Frases que ofendem e machucam mesmo nos dias de hoje. O argumento de que mulheres são emocionalmente e psicologicamente instáveis e por isso não devem votar, fere demais. Outras coisas provocam riso, como ironizar que depois de votar as mulheres vão querer ser advogadas, juízas e até serem candidatas. Uma delas é pra se apegar:
We break windows, we burn things, because war is the only language that men listen to.
Assista o trailer antes de continuar, por favor:
As Sufragistas tem um trailer tendencioso. Quando assisti, fui ao cinema esperando muito mais “ação”, uma história sobre um movimento político de sucesso, e a levada do filme é bem mais pessoal e dramática. Isso faz bastante sentido quando a base da questão é empatia. Pra gente hoje é fácil perceber os absurdos do posicionamento contra o voto das mulheres, mas como eu disse antes, provavelmente o tempo vai mostrar quão absurdos são os dias de hoje em relação às mulheres.
Por fim, vale a pena gastar uns minutos depois do filme pensando no marido da Maud. Um homem normal que comete verdadeiras barbaridades pra quem vive em 2015, mas ele nada mais é do que um homem bem normal para seu tempo. Seus erros são conduzidos por pressão social e por ser aquele o único caminho que ele conhece. Poderia ser um homem avante e a frente de seu tempo, mas é só um cara normal, o que dá um resultado bem ruim.
Um mundo melhor depende essencialmente de como nós mulheres de hoje educaremos os homens de amanhã.
p.s.: Lembrando que eu assisti a pré-estreia, esse filme estará no cinema dia 24/12/2015.
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