Foi só Fidel se afastar e Cuba virou assunto da moda, de círculos intelectuais badalados por todo o país estão em polvorosa e a coitada da minha caixa de e-mails nem agüenta mais. Pelas pessoas de lá que conheço e pelos que já visitaram a ilha, o que extraio é o seguinte: Cuba não é o paraíso, o socialismo é uma idéia de gerico e os cubanos só se contentam com o que têm porque vivem numa ditadura. Ah, não, não vivem não, alguém sempre diz. Tá, então quando, nos últimos 40 anos, Cuba teve eleição presidencial? Cada país tem o governante que merece.

Cuba tem uma estrutura de base decente? Depende do seu ponto de vista. Receber do governo o básico e institucionalizar o mercado negro não é o meu ponto de vista de estrutura de base decente. Nenhuma criança cubana dorme na rua, fato. Mas nenhuma delas tem qualidade de vida. O grande defeito do socialismo é esse: dá a todos a condição igual, mas nivela por baixo. Me respondam aí vocês, quem está disposto a dividir seu apartamento com mais duas famílias? Quem diabos neste Brasil que adora discursar sobre direitos iguais está disposto a perder uma parte substancial do que conquistou para que haja condição mínima para todos? Somos individualistas, somos incompatíveis com o socialismo. E quem duvida de mim deveria perguntar a qualquer cubano que hoje reside no Brasil se ele quer voltar pra lá, vai ouvir um não. Pergunte se conhece alguém que não queira sair de Cuba, vai ouvir outro não. Conheci cubanos o suficiente para dizer isso.

É engraçado ver uma discussão sobre o que será de Cuba… Os socialistas (teóricos, porque nunca viram na prática) alegam que Cuba vai sofrer com um mundo que não respeita sua maravilhosa estrutura social – de um povo miserável, lamento informar. Do outro lado, seres pensantes, que sabem que se o capitalismo não é nenhuma maravilha, também nunca viram um socialismo bem-sucedido. E discutem por hooooooras.

Para chegar em um ponto óbvio: Raul Castro comanda Cuba, mas é Fidel quem move a marionete. Cuba vai mudar? Vai sim, depois que Fidel morrer. E aos pouquinhos. É inevitável, que me perdoem os adeptos do socialismo.