É a primeira vez em muitos anos, sete ou oito talvez, que passo o dia das mães longe da minha mãe. O fato de morar longe não é assim tão difícil, já foi assim durante um bom tempo. Hoje foi como todos os outros anos: família barulhenta e numerosa reunida, falatório sobre amenidades, mutirão na cozinha, crianças por todo lado. Mas é que estar sem minha gorda que implica com meu cabelo bagunçado, que reclama que eu não arrumei a cama assim que acordei, que me faz trepar nas prateleiras para pegar as taças de festa, contar talheres do faqueiro e escolher qual prato fica mais bonito com a toalha vermelha… Enfraquece. Parece que o ouvido está entupido e que tudo fica distante.
Ela não é chameguenta como eu gostaria, é sonora e muitas vezes irritante, mas é minha mãe. É minha fortaleza, meu amor por cabelos vermelhos, o pilar que sustenta minha família, a mestra em saber onde está tudo e como se faz qualquer coisa, a senhora que educou os filhos impecavelmente, a sardenta de sorriso largo que me pede ajuda para pintar os olhos, as rugas e a cicatriz que mais gosto no mundo. É minha mãe e a voz dela hoje no telefone foi pouco. Porque não passou pela linha o tamanho do meu abraço e a força do eu te amo ao ouvido…
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