Saí de onde estava trabalhando (de novo) e há cerca de dez dias estou em campanha eleitoral. Antes que alguém pergunte, eu não estou ganhando nada por isso, sou voluntária. São quatro horas por dia, caminhando, batendo de porta em porta e conversando com as pessoas. Nestes últimos dias visitamos bairros de baixa renda e alguns que certamente seriam classificados como abaixo da linha de pobreza. E o fato é que isso mexe com a gente.
Todo mundo conhece alguém que vem falar sobre as necessidades dos pobres, cotas estudantis, inclusão digital, incentivo cultural. Quando algum amigo começa com esse discurso marginalizado clichê, eu já corto e emendo: somos classe média alta, somos burgueses, não venha me falar de problemas que você não conhece. Porque considero que estamos tão distantes dessa realidade que não conseguimos entender ou nos posicionar a favor ou contra. Mas com essas andanças tenho visto outra realidade, que ainda estou tentando digerir e quem sabe escrever ajude.
Esqueçam todo o discurso teórico, o que eu vejo a cada dia é bem diferente. Não adianta pensar em melhorias como inclusão digital, quando estamos falando de uma casa cujo morador sequer tem luz. Há inúmeros exemplos: ontem falei com um senhor pela rua que precisa arrancar os dentes e colocar dentadura, mas não consegue; uma mulher indignada cujo pai precisava de exames e quando ligaram para agendar a consulta era dia de missa de sétimo dia; algumas pessoas realmente marginalizadas, vivendo ao lado de córregos de esgoto; realidade nua e crua.
Vi também maravilhas do ser humano, como uma menina, que mora numa região sofrida, mas sua preocupação não é com sua casa. Chamou-nos porque sente falta de segurança, veio contar que um grupo de ladrões conhecidos no bairro está rondando um pequeno comércio, porque no momento só há uma grávida cuidando de estabelecimento.
Em contra-partida, vejo também os negociantes de votos; até o momento já ouvi pedidos bizarros, como aquele que diz que vota se ganhar uma cesta básica, vota naquele que construir seu muro, vota em quem lhe pagar água e luz, vota em quem lhe paga gasolina, pede cem reais pelo voto. Não, não estamos pagando nada disso. Não é nisso que eu acredito, não é nas conquistas nos indivíduos, acredito nos benefícios que atendem a todos. Pessoalmente, me pergunto quantas contas de água e luz, quantos litros de gasolina ou quantos cem reais uma pessoa pode ganhar se os candidatos resolverem atender. E mais ainda, me pergunto em quem esse vendedor de voto vai votar realmente.
Até agora, só sei que tenho aprendido mais sobre as dificuldades do que em qualquer discurso, debate ou documentário. Porque estou diante da realidade. E se várias vezes eu disse aos meus amigos que só faria minhas apostas eleitorais depois de conversasse com o povo, hoje eu sei que estava certa, hoje eu enxergo bem melhor do que há duas semanas.
p.s.: creio não ser preciso, mas lá vai a informação: não estou trabalhando pela reeleição do prefeito atual, porque se estivesse não estaria me sentindo nada bem. E este não é um post político, é um post diarinho.
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