Estava no jardim da minha madrinha, fumando o cigarro da sobremesa, e algo chamou minha atenção. Nos canteiros que ladeiam a entrada da garagem, há cerca de cem pés da mesma planta e só uma delas está florida. Um agapanthus azul que prendeu e levou meu pensamento longe.
Uma flor solitária, de beleza peculiar e pouco valorizada. Uma flor popular e, no entanto, incomum: junto da terra, as folhagens se multiplicam, mas sua flor aparece no topo de uma haste longa, não muito firme, que explode em dezenas de pequenas flores. Então me peguei pensando quão humana não é esta flor, tentando se equilibrar numa plataforma frágil, tentando ser o que puder. E pelos devaneios que seguiram, vi ali um tipo específico de gente: azul, por mais que bela, não é a cor mais desejada nas flores; aquele perfil de flor, semelhante a alguém que mais do que sua estética, tem sua beleza no topo, na cabeça; sendo balançada ao sabor do vento, uma flor resistente. E por fim, uma única flor, por alguma estranha razão, desacompanhada. Ao vê-la ali fiquei em dúvida se ela já floriu, antes das outras, ou se é uma sobrevivente, que permanece florida. Vi algo de mim ali, vi um quê de alguns amigos e um tanto de alguém que inexplicavelmente tem povoado meus pensamentos. Alguém que eu não consigo entender, que às vezes me assusta e me intriga, mas alguém que eu quero perto, bem perto.
Nota mental: Ô fase emo! Vou ali curtir minha angústia ao som de rock japonês…
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