“Fiz um acordo com o tempo:
nem ele me persegue e nem eu fujo dele.
Um dia a gente se encontra.”
(Mario Lago)
Anos atrás, uma amiga comentava sobre seu último relacionamento, dizia que não gostava mais, não queria nunca mais olhar na cara, que estava morrendo de raiva, etc. Lembro que eu disse a ela que aquilo era pura contradição, porque a gente só tem raiva de quem a gente ainda gosta. O tempo é um santo remédio, não só para as dores de amor.
Não sei ao certo quantos erros pessoais cometi até hoje, suponho que não sejam poucos. Sei que há pessoas a quem um dia quero pedir perdão, outras a quem devo, só preciso de oportunidade e principalmente coragem. Em contrapartida, existem pessoas que me devem desculpas. Separando as vezes em que fui ofendida das vezes em que fui magoada, não sobram muitas desculpas. Porque as mágoas se diferem das ofensas simplesmente pelas pessoas que as cometem e – caso seja necessário dizer – me megoaram aqueles de quem eu gostava, me ofenderam aqueles que simplesmente me conheciam.
As ofensas, nunca me ocupei delas, o tempo as curou muito rápido, pessoas assim sairam da minha vida sem fazer falta. Mas as mágoas, ah, as mágoas… Carrego uma coleção delas, costumo dizer que minha história é feita de chuva, suor e sangue. Como desejei receber certos pedidos de perdão, deuses, quantas noites choradas, travesseiros apertados, insônias e medos de nunca mais! Aí vem o senhor tempo, leva dois, cinco ou dez anos e faz seu milagre. As lembranças ficam enevoadas, não há muita certeza do que aconteceu naquela época.
Um dia, sem introdução, poesia ou trilha sonora, me pedem perdão. Aí eu percebo que não precisa mais. Sabe, é absurdo, não precisa mais mesmo. E de certa forma, dói ver nos olhos que agora pedem desculpas o quanto precisam ser perdoados. Não se importar com aquele pedido de perdão é quase uma forma de crueldade, talvez uma vingança, não sei ao certo. De minha parte, só sei que não faço por mal, só não importa, é tarde demais. E disso tudo, sobra o caso mais nonsense possível: ninguém pede perdão e ninguém sente falta disso, porque não importa mais. Porque o tempo passou sua borracha. Andei fazendo as contas e descobri que o tempo perdoa tudo. O tempo torna qualquer erro somente uma parte da história, o tempo me faz sentir pena. Nestes dias, não digo nada, porque assim como o tempo me cura, ele mesmo se encarrega de sangrar em remorsos aqueles que merecem.
Por fim, me resta agradecer ao tempo, por me fazer esquecer e também pela sua sutileza de apagar das memórias alheias os meus erros. Aos novos trapaceiros, daqui a pouco passa, nem me abalo. E à pequena dádiva, peço perdão pelo que fiz sem saber e agradeço o modo velado de me perdoar.
“Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.”
Machado de Assis
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