Eu já falei do Ernie aqui, mas quando falei não conhecia. O Ernie, há seis meses, era só o andarilho do asfalto de quem eu sabia pouco ou quase nada. Menos de dois meses depois, acabei por sentar numa mesa de bar com ele e isso se repetiu algumas vezes. Hoje posso dizer que conheço o Ernie. Ontem estávamos no mesmo bar e passei um tempo trocando idéias com o cara e cheguei a conclusão que eu definitivamente não entendo o Ernie. Ele me intriga, me lembra uma conversa que tive com meu pai há muitos anos, sobre um músico andarilho lá do Rio, o Ventania.
Muita gente deve conhecer, mas naquela época não passava de um cara que vivia em campings, acampava pela gentileza dos donos, comia e vestia o que ganhava e passava o chapéu por alguns trocados – ou pelo menos foi essa a história que me contaram. Andava de um lugar a outro de carona, enfim, músico de rua mesmo. Eu estava cantarolando dentro de casa a música dos cogumelos azuis e meu pai, achando aquilo muito bizarro me perguntou de onde era. Contei a história meio por cima e meu pai disse “Coitado desse cara”. Esse também foi o comentário da minha avó quando falei do Ernie, disse que é um coitado. E ela escutou uma palestra bem semelhante ao que disse ao meu pai.
O Ernie não é um coitado, o Ventania também não. Eles não têm aspirações burguesas medíocres, como uma casa bacana, um carro novo, televisão de 42 polegadas. São solitários, não tem uma família, vivem como podem. Esses caras, andando por aí, vivendo com o pouco que conseguem, meio que de favor, são felizes, simplesmente porque não têm estes sonhos capitalistas (talvez tiveram um dia, mas desistiram). Não são coitados mesmo! Estão de bem com a vida, dormem melhor que a gente e seguem seu rumo. E o mais legal: não tem aquele discurso pseudo-socialista de muita gente. Ontem eu e o Ernie falamos um pouco de burgesia, ele estava me contando que numa de suas andanças alguns mendigos com quem convivia falavam em matar os ricos e ele respondeu: deixa os burgueses, se eles são felizes assim, problema deles. Esse lance de querer matar quem tem grana é coisa de quem tem inveja, deixa os caras. É, como bem diria minha amiga Maristela Cândida, aquelas pessoas ali sambando são bem mais felizes do que nós aqui teorizando sobre o samba.
Em tempo: eu sei que os posts andam grandes. Preste queixa no Procon e eu reembolso o dinheiro que você gastou neste blog.
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