Para quem não sabe, eu moro em uma casa antiga, daquelas no meio da rua, sem muros. No coração de uma cidade já não tão pequena, Araucária não é mais uma cidade pacífica de interior.
Por volta das onze e meia da noite de ontem, minha casa foi apedrejada. Acabei de contar: foram oito pedras que estouraram três janelas da sala e do quarto de hóspedes, onde meu irmão estava dormindo. Quando tacaram a primeira pedra, eu estava a dois metros de uma dessas janelas. Congelei e só voltei à realidade quando meu irmão apareceu na sala xingando tudo. Segundo ele, eram cinco caras em bicicletas, passaram duas vezes.
Liguei para o 190. Passei meia hora ouvindo musiquinha de espera. Se alguém estivesse ferido, seria meia hora sangrando – acho que dá para morrer nesse meio tempo. Reclamei (claro que eu reclamei, porra, meia hora!) e a filha da puta ainda me diz que não é culpa dela, me manda ligar para o governador. Aham, Cláudia, senta lá.
Algumas rosnadas depois, a filha da puta da atendente diz que está mandando o carro da ronda, que eles estão disponíveis. Faz quase duas horas, ninguém apareceu. No momento, isso quer dizer tem dois PMs gordos assistindo Minorty Report na delegacia enquanto eu não sei se consigo dormir, quem dirá acordar, inteira.
(Pausa) Os filhos da puta acabaram de quebrar mais um vidro. Agora são nove pedras. Isso quer dizer que das duas uma: ou os vândalos estariam presos agora, ou eu teria um vidro quebrado a menos. Mas o filme do Tom Cruise passando na Globo é mais importante.
Como é que eu posso acreditar nessa polícia e me sentir segura? Por saber que ninguém morreu ou está ferido, os nobres senhores da lei não levantam seus rabos das cadeiras.
Diante destes fatos, algum imbecil se propõe a defender a PM? Ok, com quais argumentos?
No momento, estou indecisa sobre a trilha sonora mais adequada: a Veraneio Vascaína do Capital Inicial ou a Polícia dos Titãs?
p.s.: o sangue ainda me ferve nas veias e o susto ainda não passou, mas tem coisa que é melhor escrever na hora. Perdoem-me se este texto ficar mais visceral do que compreensível.
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