Eu perdi 42kg em pouco mais de um ano. Sem cirurgia bariátrica. Fazendo o que tenho que fazer: mudanças alimentares, acompanhamento médico, exercícios físicos. Eu acho importante começar esse post assim, principalmente quando acho que estou escrevendo pode ir além dos leitores regulares desse blog.
Coisa pra caralho muda na sua vida quando uma mulher perde essa quantidade de peso. No último mês, algumas coisas me incomodaram, por motivos bem semelhantes. Por exemplo:
1. Como toda pessoa normal, eu pego ônibus pro trabalho sempre no mesmo lugar. Quase todo dia tem dois caras que descem fumar um cigarro do outro lado da rua. Um deles sempre me chamou atenção, já verifiquei alianças e talz, nunca falei nem nada, só acho interessante. Recentemente ele “me viu” pela primeira vez.
2. Eu não tenho um horário muito regular de ir pro trabalho, mas são os mesmos motoristas sempre. Outro dia embarquei e o motorista passou o trajeto todo se abaixando um pouco pra me olhar pelo retrovisor e fornecer um sorriso de interesse constante.
3. Sábado de tarde, sozinha na praia enquanto minhas amigas ainda trabalham, deitada na canga de óculos escuros, meio cochilando. Uma promoter ativamente me aborda, fala comigo, me entrega um flyer, me convida pra conhecer o aplicativo, me faz uma breve explicação sobre como instalar.
4. Outro dia eu fui almoçar em um restaurante perto do trabalho, fui recepcionada por um garçom muito efusivo, especialmente comigo.
Além dessas histórias específicas, outras coisas peculiares tem acontecido. A simpatia e a gentileza média da sociedade muda. Todo mundo te atende melhor, as pessoas querem interagir mais com você, há uma atenção masculina muito presente. A vida é infinitamente mais fácil quando você é uma mulher bonita, o mundo parece se dobrar aos seus pés.
Eu sei que não tô contando novidade nenhuma e, ao contrário do que possa parecer, esse post não é uma campanha a favor do emagrecimento. Eu quero aqui falar como eu me sinto.
Como eu ainda não atingi o padrão estético (e nem sei se pretendo), essas coisas não acontecem todo dia, acontecem quando eu saio pagando de gatinha (uma distinta senhora que paga de gatinha, pra entender o conceito vai no Instagram ali no menu).
Sabe o que isso faz comigo? Isso machuca. Como punhal fincado na carne. Cada olhar, cada gentileza, cada interesse parece uma mão empurrando ainda mais forte nas feridas não cicatrizadas. O reconhecimento social de algumas pessoas também fere, porque agora eu pertenço ao grupo das “magras”, eu tô de parabéns.
Quando recebi o flyer do aplicativo de baladinha topzera cheguei a postar no Instagram, me perguntando quando foi que eu me tornei público-alvo dissaê. Uma amiga comentou “bem vinda ao outro lado” e eu passei uns minutos olhando pro comentário dela, me sentindo como se tivesse levado um taco de baseball na boca. Eu não quero estar do “outro lado”, as pessoas do outro lado não são legais.
Porque se o mundo é bem mais legal do “outro lado”, isso significa que quem está mais adequado ao padrão estético faz a vida de quem está fora do padrão ser pior, tratando de maneira diferente quem lhe agrada os olhos.
Corta para: uma pessoa do coworking veio me comentar que o pai dela me viu e concluiu que eu sou menos simpática do que antes de eu emagrecer. Não gosto dele, nunca gostei, mas me lembro de ter dito bom dia e segui minha vida adiante quando encontrei. Mas de repente alguém tem essa percepção ruim de mim e eu tenho um medo fudido de me tornar aquele tipo de gente que já me tratou diferente.
Eu me sinto bem depois que emagreci, eu vejo as centenas de vezes que essas coisas acontecem, elas são muito desconfortáveis. Eu não quero me esquecer.
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