Semana passada fomos no cinema ver Capitã Marvel. Enquanto as letrinhas subiam, meu marido perguntou: mas por que tanta gente reclamou desse filme? Qual foi o problema mesmo? Na hora respondi que não sei bem, mas tenho minhas teorias.
Filme visto, várias resenhas lidas, não consigo encontrar problema maior do que o fato de que Capitã Marvel é uma mulher. Não tem outra justificativa. O escrutínio que este filme está passando é um velho conhecido.
Se por acaso você é uma mulher metaleira (ou tem alguma amiga que seja), você já viu uma situação semelhante: ah, você gosta de Judas Priest? Então me diga, em qual cidade nasceu o produtor do terceiro disco? Não sabe? Ah, então você não gosta de Judas Priest de verdade. Qualquer homem com camiseta de Pink Floyd é um roqueiro respeitado, até os do tipo que vaiam Roger Waters podem manter a chancela em paz. Mas nasceu mulher, fodeu-se, tem que provar que merece gostar de rock.
Ou pra falar de mim mesma, não raro ao dizer que torço pro Vasco me perguntam coisas como: ah, é? então diz aê, qual a escalação do Vasco quando foi campeão brasileiro em 1998? Sim, desse jeito mesmo, de eu ter que corrigir que foi em 1997, não 98, o cidadão “vascaíno” não acerta nem o ano, mas como eu sou mulher preciso saber escalar o time! Desculpa se não sou vascaína o suficiente pra você, mas você questiona um homem assim?
Muitos foram ver Capitã Marvel duvidando que seria bom, assistiram procurando defeitos a cada segundo, saíram gralhando nas redes sociais. Se a gente prestar atenção de verdade nas “críticas” negativas do filme, vai perceber que nenhum dos outros filmes do Universo Marvel do Cinema passa na mesma avaliação. Espero que ninguém se atreva a dizer que é porque a audiência está mais refinada. Brie Larson tem um OSCAR na prateleira, mas vi gente por aí dizendo que ela é má atriz. Adivinha a qualificação técnica do crítico? Exatamente: nerd-zé-ruela.
O fato é que Capitã Marvel é um filme sobre uma mulher. Apesar do longo histórico de filmes excelentes da Marvel no cinema, não importa. A predisposição da audiência é negativa. Acaba sendo necessário que uma mulher se prove 10x melhor para merecer estar ao lado. Não importa se ela é metaleira, vascaína ou super-heroína.
Sabe quem reclama de Capitã Marvel? Os homens cuja masculinidade não dá conta de um rótulo de shampoo. Não conhece o conceito? Vou te explicar: tem produtos para absolutamente todos os tipos de cabelo, mas o cara compra aquele que está escrito HOMEM ou MEN no rótulo. Isso é o homem “normal”: precisa que até o rótulo de shampoo reafirme sua masculinidade.
Bendito seja meu marido e seu shampoo reconstrutor sem sal de arginina. Eu e ele amamos Capitã Marvel. Aguardamos ansiosamente um filme da Viúva Negra.
obs.: se ao ler este post você pensou coisas como “der, judas priest não é metal“, “ah, torce pro vasco, não manja nada de futebol” ou “ain, um oscar não garante nada“, saiba que esse post é precisamente uma crítica a você. Assume de uma vez e manda a foto do seu shampoo. 😛
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