Paloma, este foi o nome que ele escolheu para sua filha mais nova. Deu a ela o nome de pomba, o nome de um pássaro, sabendo que seu destino seria voar. Ensinou a ela seus dois maiores amores: as letras e os números. Através do amor aos números, ele ensinou a ela a Lógica, a dedução, o possível, o impossível, o plano, o espacial, os limites, o real e o sonho. Através do amor as letras, ela se fez esperta, aprendeu sobre um mundo que ainda não viu de perto. Estudou até ter uma profissão, escolheu trabalhar com as palavras.
Ele apontou a ela estrelas distantes no céu e lhe disse que se seus sonhos iam até ali, ela então se imaginasse ali para poder sonhar mais longe. Foi ele quem deu a ela o melhor livro que ela se lembra de ter ganhado, o primeiro livro de filosofia que ela leu, o click definitivo sobre o talento que ela tem para questionar. A cada vez que ela alçou vôo maior do que podia conseguir, ele podou suas asas. A cada vez que suas asas cresceram de novo, mais fortes e capazes, ele disse a ela: voe mais longe. Ela nunca abriu suas asas sem ele por perto para dizer Vá, filha, vá.
Agora o homem que me deu minhas asas e me ensinou tudo sobre elas está lá, como um pequeno filhote no ninho, precisando de proteção e doente. E eu abro minhas asas o mais que posso, me estico toda, tento ser tudo que ele me ensinou, mas me sinto pequena e fraca, só porque não sou grande o bastante para curá-lo, nem forte o bastante para suportar ver o galho onde sempre pude repousar fraquejar diante da natureza. Foi possível hoje olhar para ele pela primeira vez depois de dois meses e conseguir estar bem, estender a mão e colocar no meu sorriso todas as minhas forças para dizer Pai, você vai ficar bem. O problema é que agora, em casa, sozinha no meu quarto, não há ninguém para quem eu precise ser forte. E eu desmorono.
Eu peço sinceras desculpas por desabafar de forma tão pública, mas é que eu preciso tirar esse peso de mim e não quero dividir isso com olhos piedosos. Aliás, essas palavras não estão aqui porque eu preciso dividí-las. Estão aqui porque se eu não extravasar eu vou explodir.
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