Lomyne's in tha house

Já não sou mais tão jovem para ter tantas certezas.

O silêncio que precede o esporro

Eu sempre digo que uma das coisas mais chatas é que hoje em dia não tem nada a ser derrotado, quem quiser ser rebelde é sem motivo algum. Não há mais governos que nos oprimem nem impérios que precisam ser derrubados com a força do povo. A duplicata das revoluções burguesas já está para lá de vencida.

Para situar o que quero dizer em fatos recentes, vamos falar dos últimos 50 anos de Brasil. Vivia-se uma tal de era populista em que levar um povaréu para a rua era coisa de vitorioso. Mas tinha um bando de gente contra (na verdade sempre tem). E dali um pouco, toma-lhe um golpe militar. Esse sim foi um prato cheio, deu asas à imaginação de muita gente, fez a juventude amadurecer mais cedo, criar consciência política e querer fazer as coisas melhores, é a tal galera que mais do que ser dos anos 60 se orgulha de ser da geração de 68, especificamente. Gente que foi exilada, presa, torturada – com um Cinema Novo e com a Tropicália que se usavam de tantas metáforas que por vezes eram ininteligíveis para a maioria -, e depois gente que gritava pelas Diretas Já – cantando o que começava a se ensaiar como rock nacional de verdade – porque queria escolher seus governantes e até jovens nas ruas para derrubar o Collor – achando que ser grunge era coisa de quem queria mudar o mundo. Só que aí acabou a graça.

É aquela história: acabou o milho, acabou a pipoca. Se não tem nada de muito errado no país, não há contra o que gritar e menos ainda o que revolucionar. Não há opressores, não há vilões claramente definidos, mas ainda existe a necessidade de tacar pedras em alguma coisa, um desejo incontido de mudar o mundo num gesto só, seja este gesto um grito, uma passeada, um livro ou uma música. Como bem disse o Tutty Vásquez, ‘a indignação no Brasil fugiu de controle, virou epidemia! Basta que alguém grite contra alguma coisa e logo estão todos gritando, não raramente coisas diferentes, por vezes sem nenhum sentido. Se alguém amanhã levantar a voz para denunciar que a célula-tronco pode atrasar a menopausa, capaz de ter passeata em defesa da menopausa’. O próprio Tutty fala da cartilha do politicamente incorreto e do Conselho de Jornalismo como causadores de verdadeiro estardalhaço na mídia, mesmo que se fale no mesmo assunto que todo mundo mais para valorizar-se como autor célebre do que por desejo de expressar sua opinião propriamente dita.

O que falta por aí, de verdade, é avaliar o que precisa mudar nesse mundão de meu Deus e como é que isso vai mudar, porque hoje em dia já não funciona impôr coisas da noite para o dia e menos ainda funciona liberar o grito da garganta para ver tudo mudar. A era dos passes de mágica acabou, não se consertam as coisas com encantamentos da noite para o dia. No nosso pequeno país, o que precisam mudar são os hábitos e as mentalidades – as barreiras mais tênues – porque as barreiras concretas já foram vencidas.

E quem sabe então, nesse dia, se volte a produzir música de qualidade neste país. Porque falar de amor (dos que deram certo ou que deram errado, tanto faz) já está desgastado e porque eu tenho a plena convicção de que Pitty não é rock de respeito, nem Tribalistas é a melhor-grande-novidade-da-brasilidade da década.


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