Lomyne's in tha house

Já não sou mais tão jovem para ter tantas certezas.

13 Reasons Why (ou 14)

Na semana passada eu assisti o trailer de 13 Reasons Why. Mesmo antes de ser lançada, já estava na minha lista, por dois motivos muito simples: primeiro que tem alto teor de identificação pessoal, segundo que a Netflix tava lá dizendo que eu daria 5 estrelas cheinhas.

Eu passei bullying pra caralho na infância e em algumas fases da vida adulta. Não tinha esse nome na época, mas era essa parada aí: assédio, deboche e constrangimento com quem não se encaixa no modelo social/físico/comportamental. Importante destacar aqui que a tradicional sociedade paranaense é uma corja de seres desprezíveis que te tratam com extrema educação enquanto criticam tudo que você faz e fornecem recomendações constantes sobre o que você precisa fazer pra se encaixar no modelo comportamental deles, não importa se isso não é o que você quer pra sua vida. Só existe um modelo válido e o esperado é que você chegue lá ou morra tentando, porque tá aí um povo que não aceita a diferença. Isso só não é amplamente percebido porque é tanta educação e gentileza que se você reclama ou responde de maneira ríspida quem tá errado é você. É um inferno enquanto você está construindo sua identidade, creia-me.

Sexta-feira passada 13 Reasons Why estreou. Eu assisti praticamente tudo naquela noite, só dois episódios no sábado. Uma produção de qualidade sobre algo com que me importo. Porra, eu achei foda pra caralho! Eu não me vejo como ativista de nada e não é da minha natureza falar sobre coisas muito íntimas, principalmente as que me machucam/machucaram. Por isso maratonei a série, curti pra caralho, confirmei as 5 estrelas cheias e segui minha vida. Não estava me propondo a falar nada sobre o assunto, até que…

Eis que na quarta-feira começaram a surgir alguns posts e tweets. Eu estava em São Paulo a trabalho e lá geralmente não tenho tempo pra muita coisa, então acabei não acompanhando tudo que foi dito, mas pelo tom das postagens dos amigos desconfiei que já tem um bom buzz nas redes sociais. E por falar em tom das postagens, a coisa não vai bem.

Então, quando eu assisti o trailer de 13 Reasons Why rolou aquela identificação foda. Se você não viu, clica aqui. Agora deixa eu desconstruir um pouquinho esse trailer, caso você tenha algumas expectativas errôneas que eu acho que o trailer pode causar: não é suspense, não é ação, não é romance e não é mais uma historia de I see dead people. 13 Reasons Why é drama. E um drama foda.

Citando a Victoria Siqueira: Se você não gostou da série, achou o enredo pobre ou qualquer outra coisa em torno da produção, tá tudo certo, ninguém tem a obrigação de gostar. Mas a outra, bem diferente, é achar que o tema é uma bobeira e um conto adolescente.

Como eu comentei na postagem dela, eu não chamo de empatia porque pra ser empatia teria que ser algo que eu não vivi e eu já tive meus momentos de todo mundo me olhando, me julgando e/ou rindo de mim. Nesse caso não é empatia, é experiência. E cá entre nós, eu não sou tão compreensiva quanto ela, acho que quando a história é boa e o assunto é importante você precisa ser muito babaca pra ficar fazendo ladainha sobre a qualidade da produção. Mimimi gourmet de séries.

Um aleatório conhecido perguntou se a série engrena depois do sexto episódio ou se continua chata e irritante. Eu comentei que depende do tipo de pessoa que você é e de que lado do assédio você está. Se até o quinto episódio não rolou empatia, pode abandonar​ que é aquilo mesmo. Num mundo em que ninguém quer ser confrontado, meu comentário foi apagado e a “amizade” desfeita no Facebook. Não julgo ninguém por desfazer amizade no Facebook, principalmente essas que não são amizades, essas relações de quem se esbarrou 3 ou 4 vezes na vida e o contato na rede social simplesmente vai ficando. Mas dada a situação, me reservo o direito de ter uma suspeita de que tipo de pessoa ele é. Seja um assediador ou seja um gourmet de séries, amizade desfeita me parece um ótimo resultado.

Eu sinto muito que você ache irritante ou chato falar sobre a maneira monstruosa que grupos sociais estabelecidos se divertem enquanto magoam e ofendem pessoas novas e/ou diferentes. Eu sinto muito MESMO. Há cicatrizes muito fundas na carne de quem passou por bullying ou qualquer tipo de assédio. Se você não entende, você é parte do problema, tanto faz se você causou, se só deu risada ou se só não se importou, você é co-responsável. Você torna 13 Reasons Why 14 Reasons Why. Don’t be that dick.

E se você acha bobo, banal, irritante ou chato, você deveria saber que o CVV recebeu o dobro de emails diários desde o início da série e que 25 mensagens mencionam 13 Reasons Why (aqui). Mas se você quiser também pode interpretar que a série está causando esse aumento. Don’t be that huge dick.

Pra encerrar, deixo uma citação de 13 Reasons Why, fodástica:

Whole point for criative expression is to hold a mirror to the world, so hopefully this god awful people concern to see themselves and make conections helping them through their really ass lifes. Your pain, your pain is important to other people.

p.s.: eu já devo ter sido o monstro algumas vezes na vida. Mas eu tento ser melhor. Você deveria tentar também.


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