Era uma noite meio gelada, mas mais quente do que as últimas nessa cidade. Havia um show do Zeca Baleiro que não consegui ingresso por conta de uma amiga doente. Só que mesmo sem show eu estava com aquela big inquietação, aquela que me faz pirar por noites inteiras, Dona Rê Ticências queria sair para passear. E como Paloma é fraca em suas convicções, lá foi Dona Rê porta afora, deixando Paloma na gaveta.
Assim mesmo como parece: ficou em casa o riso discreto, o carinho e o dengo, o lado menina. Saiu uma moça histriônica, com altos níveis de língua ferina em pleno funcionamento, preparada para aqueles muitos copos de quem não tem nenhum juízo. Juízo é coisa de Paloma. Lá foram se divertir os olhos de quem espia o mundo, de quem sorri de lado e não deixa seus olhos lhe condenarem, a atitude e o atrevimento em pessoa. E como Rê fui apresentada, porque minha companhia daquela noite só me conhece por Rê.
E foi muito bom ser um cadinho poderosa de novo, ou pelo menos fazer de conta que sou. Me erguer por trás da muralha de sarcasmo e silêncio perigoso, todo um lado que por aqui nunca se viu antes. De volta à minha cama, sem ressaca, sem sono, sem óculos, sem arrependimento, sem vergonha, enfim, toda Rê Ticências.
Pronto, agora leva uns meses de Rê dentro do armário. Até o dia em que ela se aposentar de vez, porque escrever ela já não escreve faz teeeeeempo…
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