Ontem, atingi o grau máximo de irritação. Existem pouquíssimas coisas que me irritam assim de me tirar o sono. A big-best-power-hiper-irritação geralmente acontece quando algo de que discordo com todas as minhas forças aparece na televisão. Por que? Porque eu brigo com a televisão, mas ela não me ouve e continua o mesmo discurso besteirento. Aí eu vou me irritando, fico muito puta com a televisão e não consigo dormir tão cedo. É, eu sou assim, fazer o quê.
Ontem o que me tirou do sério foi a TV Educativa, em seu sincero esforço de fazer um mini-documentário relacionado ao 13 de maio – dica de história: Abolição da Escravatura, que aliás só se chama assim porque Abolição da Escravidão fica medonho. O doc ia bem enquanto apresentava os fatos do século XIX, aqueles básicos que a gente estuda na escola. E eu comentando:
TVE: …apesar de já haver escravidão na África…
Eu: viu? uns negros é que venderam os outros!
TVE: …lei do sexagenário, que libertava os negros com mais de 60 anos…
Eu: grandes bosta, não fizeram asilo!
TVE: …depois da abolição, muitos negros continuaram trabalhando nos engenhos…
Eu: mas também, iam pra onde? Não teve reforma agrária!
TVE: …jogar capoeira virou crime…
Eu: tá, os negros sem ter o que comer sentavam a porrada para sobreviver.
TVE: …então surgiram as cotas, para reparar o erro cometido naquela época…
(pronto, fodeu, surtei com a tv!)
Eu: Ah, vai se foder, TVE, minha família não era aristocrata! Não ganhei porra nenhuma com a escravidão, minha família é meio de mascates e meio de italianada que veio para cá se foder trabalhando em lavouras, justamente aquelas em que os negros não queriam mais trabalhar.
E fiquei reclamanda e resmungando por mais meia hora… Tá, eu não regulo muito bem, discutir com a televisão não resolve bosta nenhuma e ainda me tira o sono. Mas porra, eu quero cota também. Também não entrei na universidade pública. E paguei minha faculdade com meu trabalho. O governo não me reembolsou. E aí? E aí fodeu, porque eu sou excluída do sistema sem uma cor de pele que justifique. Ah, para a puta que o pariu o 13 de maio. Deve ser feriado na Bahia…
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