Peace, Love, Union, Respect. Aprendi essa expressão logo que comecei a freqüentar raves, há sete anos atrás. Paz, porque não havia briga, nem sequer pessoas discutindo. Amor, naquele delicioso conceito de amar as pessoas como elas são, amar em termos de carinho gratuito e admiração. União, porque juntos somos mais fortes, porque a egrégora de uma energia de muitas pessoas que pulsam coisas positivas pode mudar o mundo. Respect, porque somos iguais, porém diferentes, porque meu direito acaba onde começa o seu. Há sete anos, não eram só palavras. Era uma filosofia de vida, que eu via cada dia, em cada rave que entrava, em cada pessoa que conhecia, uma filosofia que adotei.
Acho que o primeiro defeito que a maioria das pessoas vê numa rave – e também a primeira coisa que pensa ao ler esta palavra – são as drogas. Porque quem nunca pisou numa rave pensa que lá você vai encontrar aquela imagem de gueto de filme americano com pessoas alucinadas caídas pelo chão. Só que, como eu acabei de explicar, havia respeito pelas diferenças. Não tava todo mundo doidão ali dentro, aliás, acho que nem a maioria estava. A gente respeitava a escolha de cada um, simples assim. Ou será que algum usuário de droga não sabe o que está fazendo e precisa ser alertado e protegido? Opa, isso é assunto para outro post.
Estávamos lá para nos divertir, ao som de músicas que movem o corpo mesmo que você não queira. Só que depois de três anos estando em raves quase todo final de semana comecei a ver mudanças. O público começou a aumentar e mudar de perfil. As novas pessoas estavam ali para pirar usando drogas, arranjar uns amassos e foda-se o mundo. Lembro nitidamente da primeira vez que fui ‘cantada’ numa rave, como fiquei puta! Deixa eu esclarecer como o carioca aborda mulher na balada: ele pega a garota pelo braço, começa a puxar, vai nojentamente se chegando ao seu ouvido, se a gente reluta ele puxa com força e tenta te beijar na marra. Como eu tenho nojo disso! Quando isso me aconteceu numa rave, soltei meu braço com força e perguntei é sua primeira rave? Ele disse que sim, eu com muita paciência recomendei a ele que aprendesse a viver como nós ou então voltasse para a boate de onde tinha saído.
Em cada rave depois disso, eu via que menos gente se importava em não jogar cigarros e latas pelo chão, em não estragar as plantas próximas. E cada vez mais gente se importava em fofocar sobre a vida alheia, em analisar roupas, em dar uns pegas. Com o tempo, percebi que nós que ali continuávamos deixamos de ser todos para ser maioria, depois só metade e creio que hoje os remanescentes do P.L.U.R. devem ser uns 20%. Quando me dei conta deste processo nós ainda éramos maioria, mas eu parei. Porque eu sabia que esta filosofia estava se perdendo, porque não quis arriscar ter tanta raiva de raves quanto tenho de boates, porque vi que seria quase impossível ensinar aquele bando de gente nova nossa filosofia, eles não queriam aprender o P.L.U.R.
Ainda hoje, posso dizer que o trance é minha essência. Ainda hoje, quando ligo meu celular, a mensagem de abertura é Peace, Love, Union, Respect. Ainda hoje, sinto falta de dizer aos amigos te encontro ao amanhecer. Ainda hoje, queria entrar numa rave como as de que me lembro com carinho. Raves como esta:
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