Minha mãe ensinou que pão e água não se nega a ninguém, depois que comecei a fumar, adicionei cigarro na lista de inegáveis. Por mais convicções que eu tenha contra assistencialismo governamental, não consigo – e de fato nem pretendo – abrir mão desta filosofia simplista que ajuda alguns a sobreviver.
Antes de seguir, duas historinhas ilustrativas:
1. Faz uns dois meses, um casal com um bebê no carrinho andava pelas imediações do meu trabalho na hora do almoço. Pediam ajuda, pois vieram do litoral para trabalhar numa chácara e o dono acabou contratando outros. Não hesitei, abri a carteira e estendi os cinco reais que tinha na carteira. Há uma semana, me abordaram de novo, com a mesma história. Dessa vez não.
2. Há alguns dias, um novo pedinte apareceu no terminal em que pego ônibus para o trabalho. Morador de rua, pedia ajuda para comer alguma coisa. Catei as moedas que tinha e entreguei. No mesmo dia, fui testar um caminho alternativo para ir embora, Qual minha surpresa, quase às oito da noite, ouvindo exatamente a história da manhã, só que parecia que tinha colocado o disco em 33 rpm, com aquela estranha lentidão, sabe lá Deus por conta de qual droga.
Não, eu não ajudaria estas pessoas se fizessem o gênero do mendigo honesto, aquele que pede um dinheiro dizendo que é para beber mesmo. Mas eu não consigo entender a mentira, me sinto tão desrespeitada! Claaaaro, sempre tem alguém que vai dizer: se você sabe que estes pedintes urbanos são nada mais que bons contadores de histórias, melhor não ajudar nenhum. É que apesar de saber disso, sei que de vez em quando uma destas pessoas realmente precisa da ajuda que está pedindo e suponho eu que poucas coisas na vida devem doer mais do que ter de pedir ajuda a um estranho.
Este post não pretende chegar a lugar nenhum, eu não tenho nenhuma idéia para resolver esse tipo de problema social. Fico pensando quantas dessas pessoas tem bolsa-vagabundo e quantas realmente estão marginalizadas. Se não conseguem trabalho – como alguns – ou se tem preguiça de trabalhar porque o governo dá mesmo e fazem uma grana extra pedindo esmola e tirando onda de guardador de carro no começo da balada, já que no final nunca estão lá. Quantos realmente se foderam e ficaram sem nada e quantos poderiam se empenhar para ter algo? A que ponto chegamos como espécie para não haver certeza se aquele que te pede ajuda não tem escolha ou não tem escrúpulo?
Por praticar a caridade, eu durmo bem à noite. O cara que não tem escrúpulos também dorme. E daí?
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