Lomyne's in tha house

Já não sou mais tão jovem para ter tantas certezas.

O glamour do trabalho

Era 2012, estava no escritório batendo papo com coleguinhas, quando meu chefe me disse uma das coisas mais importantes que já ouvi sobre trabalho. Você só pensa isso porque você está entrando no auge da sua carreira. Aproveite os próximos anos, eles serão incríveis. Aos 40 isso passa, infelizmente. Eu não soube bem o que responder, então calei minha boca e guardei minhas opiniões pra mim.

Então veio a era das agências na minha vida. Há 4 anos, meu trabalho é marketing online de performance, algo muito maior do que ter anúncios no Google e no Facebook. Eu repito como um papagaio: meu trabalho não é gastar dinheiro, meu trabalho é trazer resultados específicos com aquele dinheiro.

Nesse meio tempo, vieram várias ondas de mercado, várias formas de se encarar a carreira. A entrada de pessoas mais jovens trouxe uma visão cada vez maior baseada na satisfação pessoal no trabalho. Porque não dá pra deixar pra ser feliz depois, quando juntar a grana e talz. Algumas coisas fazem sentido pra mim, outras não. Eu divido em algumas correntes comportamentais fodas:

1. O glamour do excesso de trabalho. Às vezes o bicho pega mesmo, na Black Friday quem tem cliente no varejo multimarcas precisa de um acompanhamento maior. Tirando isso, não há necessidade efetiva de se virar noites, de se correr com as coisas. Há alguns anos, vi uma agência fazendo como pergunta de triagem de estágio “o que te motiva a virar a noite de sexta-feira trabalhando na agência?” Nada, colega. NADA. Ninguém deveria se inscrever em um processo seletivo que deixa bem claro que vai comprometer sua vida social/pessoal.

2. O glamour de vender miçangas. Fulano largou agência e foi mochilar o mundo, vivendo de pequenos trampos pra poder aplaudir o pôr-do-sol cada dia em um lugar diferente. Semi-relacionada, a corrente dos “nômades digitais” também tem um tremendo glamour. Como se fosse possível pra qualquer ocupação trabalhar em qualquer fuso horário. Dependendo do que você faz da vida, não dá.

3. O glamour do empreendedorismo. Por que diabos todo mundo acha tão bonito empreender? Ser dono de um negócio envolve um monte de coisas que talvez você não queira: cuidar de área comercial, administrativo, financeiro (e não é pouco trabalho).

Tá tudo bem querer empreender, mas eu queria confirmar uma coisa com essa galera que defende empreender acima de tudo. Você sabe que pra expandir seu negócio, você precisa de funcionários, né? Se todo mundo passar o tempo inteiro todo querendo empreender e ser patrão, quem vai trabalhar pra você? Um bando de gente que ainda não conseguiu empreender e por enquanto vive infeliz? Para um negócio ser grande e incrível, os funcionários precisam ser felizes. E pra isso as empresas precisam promover condições maneiras de trabalho. Mais que isso, o mercado precisa valorizar quem escolhe ser funcionário. Mas não há glamour em ser feliz como funcionário.

Ninguém valoriza um modelo simples de felicidade de carreira do tempo dos nossos pais, mas deveriam. Veja bem, a realidade possível para a maioria das pessoas é conseguir um emprego e se desenvolver, seja nesta empresa ou em outras. Os modelos comerciais de felicidade hoje falam de ter uma empresa, de abandonar um emprego ou de trabalhar numa das top 3 empresas de determinada área, filosofia Google e talz.

Você já viu alguma reportagem dizendo “funcionários que ganham bem, tem perspectiva de crescimento em empresas que não abusam de horas extras são mais felizes, aponta estudo”? Não, né? Ninguém valoriza isso, mas esse é o modelo de felicidade mais acessível. Somos um país de pequenas e médias empresas, esse modelo é o que pode ocorrer para muito mais pessoas do que empreender, vender miçangas ou receber pequenos mimos de quem muito te explora. Pra isso só precisamos de empresas que respeitem limites e de um pouco de apoio de mídia pra divulgar que dá pra ser feliz sendo funcionário, se você não é feliz lá, provavelmente o problema é a empresa, não o trabalho.


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