Lomyne's in tha house

Já não sou mais tão jovem para ter tantas certezas.

O Ciclo sem Fim do Rei Leão Comodista

A história da minha vida é cheia de idas e vindas. Múltiplas cidades, grupos de amigos, viagens pra trabalhar, estudar ou lecionar. Mudanças de endereços e de rotinas. Não que eu seja numa nômade digital, apenas me mudei conforme as oportunidades da vida. 

Deixei amigos nos lugares que morei, pessoas com quem tenho memórias lindas, de fases lindas, que quero poder revisitar para sempre. Alguns deles às vezes dizem vem pra cá, estamos com saudades. O coração chega a ficar apertado, porque isso não é algo simples.

Quando a gente (se) muda muito pela vida, eu acho que aprendemos a perceber isso de uma outra maneira, porque não dá mais pra marcar pequenos encontros. Não rola um churrasco na casa do Ivan nesse sábado ou um happy hour no Largo da Batata. Nem aquele aniversário no Parque Regadas e menos ainda curtir show no Circo Voador que depois estica até amanhecer na sinuca da Lapa. Ainda bem, porque eu nem tenho mais saúde pra isso. 

Com tantas mudanças de cidade, vai ficando muita gente muito longe, recortes de vida filtrados pelas redes sociais. Todo mundo parece perto, mas isso não chega aos pés das piadas ruins e comentários mordazes no bar, ou das frases decoradas de Cócegas seguidas de gargalhadas, menos ainda das jogatinas de truco, sueca, RPG, mímica e board games. As saudades da convivência sempre vão existir.

Tô com saudades, vem pra cá

Desculpa, não posso estar contigo sem um bom planejamento. Quero vê-los no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Florianópolis, mas não costumo estar de passagem por estas cidades, vou pra visitar pessoas. E para isso é preciso planejar datas, trabalho, transporte, hospedagem.

Para os mais chegados, eu gosto de oferecer a contraparte. Tenho um colchão inflável para bons e velhos amigos dormirem no escritório. Quase ninguém vem, “vamos combinar” e nunca combinamos. Quando a grana e o tempo são daqueles que não se mudaram, parece que a saudade nem é tão grande assim. Aí passa um tempo e um dia pula de novo “tô com saudades, vem pra cá“. Já houve épocas em que isso me deixava chateada. Nove mudanças depois, eu meio que superei. 

Então quero fazer um pedido

Quando você pensar em dizer vem pra cá, vamos pro bar considere bem o que isso significa. Faça as contas e veja que não é simples assim como parece, pense como se você tivesse que ir, faça suas contas de tempo, dinheiro e prioridade. Bem mais complicado, né? Então proponha mais tempo, ofereça sua casa e sua companhia por um final de semana, por exemplo. Ou seja compreensivo, porque dificilmente a visita vai acontecer. 

Um dos meus irmãos mora do outro lado do mundo, na Nova Zelândia. Além dele, tenho amigos que foram pra outros países e mais um buzilhão nas cidades onde morei. Quero vê-los, sinto saudades. Um dia eu vou. Mas sempre me preocupo de não fazer com eles o Ciclo sem Fim do Rei Leão Comodista, esperando que as pessoas apareçam aqui, porque moravam aqui, achando que os esforços são unilaterais. Os que foram pra longe entendem. Tente entender também. 

Visite as pessoas que gosta ou crie condições reais para seus amigos te visitarem, mas não cobre quem não vai. Seja legal com as pessoas que se mudaram pra longe. Eles ainda te amam, garanto. 

Aliás, sem piada, bem sério mesmo, ouve aí a música do Rei Leão de novo e presta atenção na letra, quem sabe ajuda ainda mais a entender como partir faz parte da vida. Aproveite e convide aqueles de quem você sente saudades.


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