Lomyne's in tha house

Já não sou mais tão jovem para ter tantas certezas.

A Política do Cheetos

A política do Cheetos

Semana passada tivemos a maior comoção de notícias sobre os 100 dias de governo do presidente Bolsonaro. Li muitas coisas a respeito, uma delas me chamou atenção por me causar a mesma sensação das manifestações de 2013 (revolta do vinagre, 20 centavos, jornadas de junho, esse rolê aí).

Suspeito que em 2013 algo mágico tirou as pessoas da zona de conforto. Uma insatisfação generalizada, milhares de pessoas foram às ruas e demonstraram que assim não pode, assim não dá. Eu fui uma dessas pessoas, mas admito que a comoção da época foi tão surpresa pra mim quanto pra então presidente Dilma Rousseff.

Estamos cá em 2019, ninguém se mexendo como naquela época, todo mundo cuidando de suas próprias vidas. Mesmo assim eu vejo muita insatisfação. Então, galera, eu concordo que o Brasil não tá maneiro, que esse não é o país que a gente sonha. E aí?

Ao que me parece, tanto em 2013 quanto em 2019, estamos fazendo a mesma coisa: agindo como uma criança que não quer comer o prato que a mãe colocou na frente dela. Fazendo manha, dizendo que não quer, na esperança de que daqui uma hora vai ganhar Cheetos e chocolate. Claramente, o brasileiro médio não teve uma mãe como a minha.

Tá ok, eu entendi que a reforma da previdência não está maneira. O status atual também não está. Eu concordo que certas coisas no pacote anti-corrupção são falhas. Eu percebo que muita coisa tá errada, não quero o prato que está na minha frente. O que eu não entendo é: vocês acham que vai ter Cheetos e chocolate?

Tanto faz se estamos falando de todo mundo nas ruas em 2013 ou do ativismo de sofá que tem agora. Não adianta reclamar se não temos alternativas. Não vai ter Cheetos.

O Brasil precisa de uma reforma da previdência. Precisa ser mais eficiente no combate ao crime organizado, da periferia ao colarinho branco. Precisa pensar em desenvolvimento e parcerias internacionais. Se os caminhos que a presidência propõe não servem, não somos mais crianças, precisamos de alternativas.

A quem cabe essa responsabilidade? Aos representantes na Câmara e no Senado? Provavelmente, afinal são esses os primeiros de quem esperamos alguma atitude. Isso me parece muito otimismo. Nesses 20 anos em que presto atenção em política, nunca vi nada parecido.

O que eu acho mesmo é que a gente precisa aprender a se mexer. Não com post no Facebook nem encaminhando coisas nos grupos de WhatsApp. Mas com um raciocínio sério e adulto como pensamos que somos.

Que tal buscar alternativas de verdade? Que tal entrar em contato com o gabinete do deputado que representa seu estado e pedir satisfações do que ele está fazendo? Que tal pesquisar de verdade alternativas responsáveis, não só esperneios que fazem sucesso em rede social? Que tal se engajar em grupos de pesquisa sérios, se comprometer com uma proposta de nova educação, gastar seu tempo com isso além de só reclamar? Comece pequeno, vá nos encontros das associações de moradores do seu bairro, por exemplo. Mexa-se.

A movimentação política séria só será adequada ao bem da maioria quando a maioria se envolver. Alguém já disse que aqueles que não gostam de política estão fadados a serem governados pelos que gostam. E gostar de política, colega, não é compartilhar a abobrinha do dia da Ministra Damares.


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